Ele não quer apenas enfiar as mãos dentro daquele vestido, ele quer todos os lábios dela para si. Quer desfrutar do gosto da beleza e prendê-la sem mais porquê. E sugar sua vida, torná-la escrava de todos os seus desejos e pecados. Quer a vingança por outra e outra. Sentir-se Deus numa forma mais rude e o Diabo na sutileza.
Então vai. Seu perfume assassino exala o vigor do olhar. Espera a bela vítima calar com seus olhos verde água, justamente agora que os olhares se atraem pela longa caminhada até sua direção. A boca dela, que tem batom vermelho sangue, que contrai levemente o labio inferior, passando a lingua devagar sem perceber, é vitima do nervosismo que olhos escondem.
Reparem na musica de Edit Piaf soando ao fundo, como se os anjos acabassem de ser manipulados pelos demônios da luxúria. E já falei do vestido branco? Sim, branquíssimo, de tecido leve. E as mãos com aliança ao redor, pediam com toda fé para serem algemadas, imploravam a todos os santos para não transparecer a respiração ofegante ao pé do ouvido de sua parceira. Ele prosseguia em passos lentos, com vontade de desfrutar da virilidade obsessiva que possuía, e só. Sem paixão ou compaixão. Ela olhava armando aquele maldito sorriso encantado enquanto aumentavam a fumaça no salão e alguns seguiam rodopiando.
Ela parada e ele se aproximando demais. Demais.
Não apenas enfiou as mãos dentro daquele vestido como teve todos os lábios e o gosto da beleza, que saia dela. Ela o agarrava firme ignorando sangue e suor que corria pelos buracos das costas feito com puro tesão. Quando acabaram, o fogo ainda queimava e ele teve certeza do êxito da alma que acabara de roubar. Sorriu nu, em frente ao espelho, antes de se limpar.
Oito anos e uma barriga mais tarde chegou a conclusão da real falia do seu brilhante plano na juventude, quando abriu a porta de sua casa e leu o bilhete que estava em cima da mesa, escrito às pressas:
“Volto tarde, peguei o cartão”.
Ami Porto